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Símbolos Cristãos 

A necessidade que temos de demonstrar concretamente aquilo que sentimos e/ou pensamos, nos leva a fazer uma viajem para (re) unir o material ao transcendente.

Desembarcamos em outra margem: isto pode ser aquilo. Ou isto pode revelar aquilo.

Os elementos dos quais a vida natural se constitui estão em paralelo com o que o transcendente oculta. A terra, a água, o vento, o fogo, o pão e o vinho, as vestes litúrgicas, flores, velas, perfumes, são carregados de sentido. Cabe-nos encontra-los e aderir a eles.

Os rituais religiosos usam desses sinais sensíveis e, reconhecendo-os simbólicos, trazem para o mundo visível verdades pressentidas e buscadas.

É uma sábia maneira de mostrar aos humanos um patamar inesperadamente alto, onde se encontra a divindade.

Colaboração de Conceição Vaz Lino

O Fogo

Na expectativa da próxima Olimpíada, vemos que um recipiente contendo as chamas de um fogo duradouro pretende acender os corações das pessoas e uni-las num mesmo entusiasmo. É a tocha Olímpica que crepitará na pira no decorrer dos jogos que desde há tempos mobilizam os povos.

O fogo tem esse poder agregador. Resultante da combustão de material orgânico, ele é considerado o início civilizatório da humanidade.

O fogo ilumina a inteligência e aquece os corações. Suas chamas se dirigem para o alto, sendo elas mesmas um prolongamento da luz.

Além de iluminar e aquecer, ele tem um valor de purificação, porque queima o impuro e o regenera.

Na liturgia católica, o Fogo Novo é celebrado na noite da Páscoa, quando, a partir da escuridão, acende-se o Círio Pascal que difundirá sua luz entre os participantes do ritual e permanecerá aceso por todo o ano litúrgico.

O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos em forma de línguas de fogo e a presença de Cristo no Sacrário é marcada por uma luz sempre acesa.

Velas são usadas na administração dos Sacramentos, nas procissões e nas manifestações devocionais.

O nosso fervor-simbolizado no fogo nos fará encontrar a Luz, que se revelará na Eternidade.

Conceição Vaz Lino.

O Peixe

Os primeiros cristãos, quando se encontravam, para não serem identificados por seus perseguidores, desenhavam no chão a figura de um peixe.

Escapando do anonimato das grandes águas, o peixe mostra a presença da vida no oceano da existência.

Ligado ao peixe está a ideia do pescador. Alguns apóstolos exerciam esta atividade e o próprio Jesus disse que faria deles pescadores de homens para o Reino de Deus.

Em grego as iniciais do epíteto JESUS CRISTO FILHO DE DEUS SALVADOR, forma a palavra ICHTHÝS (ixbús) que significa PEIXE.

A Cruz

A cruz é o símbolo máximo do cristianismo. Representa o sofrimento, a morte e também a ressurreição de Jesus.

Em qualquer parte da terra em que é vista, identifica e reafirma a adesão das pessoas aos princípios que regem a fé cristã. Ela está nos altares, no cimo das igrejas, nos gestuais dos ritos, no persignar-se das pessoas, nos adornos cristãos públicos e privados.

Desde tempos ancestrais (anteriores à vinda de Cristo), a cruz já trazia em si o simbolismo da totalidade. Indicava os quatro pontos cardeais, o embaixo e o em cima. Seus braços horizontais lembram a terra, enquanto o eixo vertical aponta o infinito. Juntam-se neste símbolo a terra e o céu, a “anima” e o “animus”, a reunião harmoniosa dos contrários. Diferente da esfera que se fecha em si mesma, a cruz se abre a todos os ventos. Pregado na cruz, Cristo abre os braços para todos.

Como “axi mundi” (eixo do mundo) a cruz lembra a árvore que, presa ao solo cresce para a luz, oferecendo sobra e conforto.

Onde quer que se encontre, à vista de todos, ou escondida no peito dos homens, a cruz aponta os caminhos da salvação.

A Água

Dentre os elementos presentes em nosso mundo visível e que sabemos ser essencial à vida está a água.

Ela se situa na origem da própria vida, promove a renovação da natureza e mantém os seres vivos e operantes. Por seu aspecto, traz também a ideia de limpeza e restauração.

Essas características levam a pensamentos/sentimentos elevados: um mundo puro e superior.

Os rituais se servem delas quando precisam tornar concretas ideias e devoções que ela inspira.

No Batismo – o primeiro sacramento da Igreja, a água é elemento visível. O próprio Jesus foi batizado por João, mergulhando nas águas do Rio Jordão.

Quando derramada na cabeça do batizando, indica que ele está sendo limpo de toda a impureza original. Mais ainda: está renascendo para um nível de vida acima da realidade natural. Jesus afirma a Nicodemos “Se não renascerdes da água e do espírito não podereis entrar no Reino de Deus” (Jo3,5),

No seu encontro com a Samaritana, Ele se diz a Fonte da água viva: “Quem bebe dessa Água nunca mais terá sede” (Jo4,14). Jesus aplaca nossa sede de Deus.

Durante a Missa, ao iniciar o Ofertório, o Sacerdote lava as mãos enquanto pronuncia a oração: “Lavo as minhas mãos entre os inocentes, e me aproximo de Vosso altar, ó Senhor”. É preciso estar limpo para participar do Banquete Divino.

Quando aspergida sobre os fiéis a água torna lavados e puros aqueles que creem na presença do Sagrado, através da água tornada simbólica.

O Óleo

Um ramo de oliveira no bico de uma pomba foi o sinal enviado por Deus a Noé quando as águas do dilúvio baixaram e a terra voltou a ser habitável. É do fruto dessa árvore que se origina o óleo, que para sempre fará parte dos rituais e sacrifícios sagrados.

O óleo fornece o alimento e iluminação e como tal simboliza força, luz e prosperidade.

Os povos mediterrâneos usavam-no como unguento para cicatrização de ferimentos e esfregavam-no nos membros dos lutadores para lhes transmitir forças, flexibilidade e vitória.

Em Israel os reis eram ungidos, o que lhes conferia autoridade e poder vindos de Deus.

A palavra hebraica UNGIDO significa MESSIAS, que na tradução grega é CHRISTO.

No cristianismo o óleo está presente em alguns sacramentos:

  • no Batismo, para dar início à jornada;
  • na Crisma, para a confirmação da fé;
  • na Unção dos enfermos ou viático para encerrar a etapa e dar início à nova caminhada;
  • na ordenação do sacerdote, quando suas mãos são ungidas, para que tenham o poder de distribuir bênçãos. Os Bispos são ungidos na cabeça, pois a eles é conferida a autoridade e decisões.

A força e a luz emanadas do óleo dão suporte aos que transitam neste mundo com olhos voltados para definitivas realidades.

O Pão e o Vinho

Quando entramos numa Igreja, ou quando participamos de um ritual sagrado, somos envolvidos por um símbolo – uma linguagem do mundo concreto que aponta para realidades definitivas que compõem outro mundo pressentido e desejado.

Os símbolos podem estar presentes nas palavras, nos gestos, nas imagens. A água, o fogo, o perfume do incenso, as cores, os paramentos, o ritmo e as letras dos hinos carregam mensagens para serem decifradas e vividas.

O pão e o vinho são presenças recorrentes, só que ULTRAPASSAM a linguagem simbólica. Estão por assim dizer, para além do símbolo, porque na celebração da Eucaristia se tornam o próprio Corpo e o Sangue de Cristo.

De qualquer modo, a mensagem material, o que salta aos olhos do crente em sua visão mais básica contém a ideia inicial.

O pão é alimento essencial, conhecido por todos os povos, o primeiro fabricado por mãos humanas a partir do grão ofertado pela terra. Ele dá força para a caminhada humana e está estreitamente ligado à ideia de ALIMENTO. Quando o Evangelho diz “não só de pão vive o homem”, o significado da alimentação é ampliado do material ao espiritual. Na Última Ceia Jesus toma o pão e afirma “Isto é o meu corpo”, o que transubstancia o alimento ali ofertado.

O vinho, associado ao sangue tanto pela cor, como por ser a essência da videira, é também transubstanciado no Sangue de Cristo. “Este é o cálice do meu sangue”, diz o Senhor aos apóstolos.

Pão e vinho – Corpo e Sangue – são o próprio Cristo dado em sacrifício para fortalecer os homens em sua trajetória de vida.

Ao acercarmo-nos da mesa da Eucaristia, levemos a certeza de que o próprio Deus nos habita e nos quer unidos em comunhão

A linguagem simbólica

Quando falamos de coisas ou de fatos que escapam de nossa realidade imediata e/ou imaterial, procuramos meios de expressão que se aproximem do indizível. Utilizamos, então, de uma linguagem simbólica, construída por sinais convencionais: imagens, gestos e, com mais frequência, palavras metafóricas. Assim, se eu digo que alguém é uma flor, por exemplo, todos entendem que aquela pessoa possui qualidades comuns a uma flor: beleza, delicadeza, encanto. Cada um converte a pessoa em atributos que reverberam em seu coração. Por isso, esse tipo de linguagem funciona em “mão dupla’, isto é, a compreensão do que foi dito completa-se com o que o ouvinte, ou o leitor, ou o espectador tem dentro de si. Desse modo ele se torna participante do que foi mostrado.

A linguagem simbólica dirige-se ao ser humano integral e penetra no coração das pessoas. Elas aderem às mensagens recebidas de acordo com suas vivências ou suas necessidades. Partindo do geral para o particular, ou vice-versa, essa linguagem exige comprometimento.

O Tempo

Os gregos antigos, que tanto influenciaram a cultura ocidental, tinham duas palavras para se referir ao tempo. A primeira é chronos que se refere ao tempo comum, ao decorrer dos acontecimentos do dia a dia. Aliás, segundo a Mitologia, Chronos era um deus que devorava os filhos logo que nasciam.

A segunda palavra é kairós, que se refere ao tempo como momento oportuno, onde se encontram os significados e onde é dada a oportunidade de vivenciar os acontecimentos. É um tempo aberto à renovação.

Quando participamos de rituais ou comemorações religiosas, o tempo é kairós  que está inserido no chronos apenas circunstancialmente, pois ele não se mede por dias ou horas, mas pelo conteúdo de seus significados.

Na celebração da Missa, por exemplo, vivenciamos todas as etapas do Sacrifício Sagrado, onde a Vítima é apresentada, ofertada, desmembrada e oferecida para alimento da comunidade. É um ritual antigo que se renova com a presença viva de Cristo, sob as aparências de Pão e de Vinho que nos alimenta e renova.

Seguindo esses passos, penetramos no mundo mítico em que o tempo não se mede pela quantidade, e sim pela qualidade.

Maria

O Evangelho de João narra que estavam presentes a uma festa de bodas em Caná, Maria e Seu Filho.

Percebendo que começava a faltar vinho para os convidados, Ela avisa a Jesus: “Eles não têm mais vinho”. Ele refuta dizendo que sua hora ainda não havia chegado. Mas Maria dirige-se aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Ele mandou que se enchessem os potes de água. E a água tornou-se vinho da melhor qualidade.

Esse foi o primeiro milagre de Jesus, feito a pedido de Sua Mãe, dando início a sua vida pública.

Maria sempre esteve unida a Jesus. Recebeu-O em seu ventre como uma serva que cumpre a vontade do Senhor, acompanhou-O em sua pregação, esteve com Ele ao pé da Cruz, rejubilou-se na sua ressurreição.

Maria é Mater (matéria) plena do Espírito de Deus que nela habitou e se fez homem. Ela representa o feminino no que há de melhor na concepção e na aceitação da vida. Serva, fez-se rainha e junto a Jesus intercede por nós, enquanto exorta: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

O Espaço Sagrado

Na maioria das cidades há uma Igreja Matriz construída em lugar de destaque, quase sempre em centro de terreno, e é referência da Paróquia para onde os fieis são chamados para as orações, rituais e festas religiosas.

A Igreja geralmente tem torres que apontam para o céu e sinos para conclamar o povo. Sua porta principal é larga e às vezes (como nas Catedrais góticas) adornada de seres assustadores. É que ali, no limiar, deve ser abandonado tudo aquilo que impeça a elevação do espírito.

Dentro do recinto há geralmente uma cúpula (ou domo), sob a qual está o altar em posição mais elevada, por onde a Divindade transitará em direção aos crentes. O Sacerdote é Seu veículo.

Os vitrais (se houver) coarão a luz profana através de cenas Bíblicas, o perfume das flores e do incenso flutuará elevando os sentidos, as velas emitirão calor, as orações e os hinos elevarão os pensamentos.

Tudo o que for profano se reverterá, porque no Templo Deus está presente, irmanando os fieis numa mesma direção.

Concentração e respeito são necessários para uma verdadeira participação no espaço sagrado que é a Casa do Senhor.